Nos últimos meses, o cenário educacional do Rio de Janeiro tem sido marcado por um crescimento significativo nas práticas de repressão e intimidação contra profissionais da educação pública. Medidas adotadas pela gestão estadual têm provocado inquietação entre docentes, sindicatos e entidades acadêmicas, que denunciam perseguições políticas e ações administrativas severas sem o devido respeito ao contraditório. Essa conjuntura expõe uma escalada autoritária, que tem transformado o ambiente escolar e universitário em espaços de tensão e vigilância constante.
A demissão de professores e a suspensão de outros, sem transparência ou direito amplo de defesa, vêm sendo apontadas como parte de uma política deliberada de cerceamento da liberdade de expressão e de atuação sindical. Ao mesmo tempo em que reivindicam melhores condições de trabalho e valorização profissional, os docentes enfrentam processos administrativos conduzidos de forma sumária. Essa realidade tem provocado manifestações por todo o estado, que vão além das reivindicações salariais e se voltam, agora, para a defesa da democracia dentro das instituições de ensino.
Entre os fatores que agravam a situação está a centralização do poder disciplinar nas mãos de corregedorias estruturadas sob forte influência de setores de segurança pública. Nomeações de agentes externos às instituições, sem concurso ou vínculo educacional, reforçam o caráter punitivo das ações. O que deveria ser um processo administrativo transparente, com foco na correção de eventuais falhas, tem se tornado um instrumento de controle político e ideológico. Essa inversão de propósitos atinge diretamente a autonomia universitária e o espaço democrático nas escolas.
O uso de dispositivos legais para ampliar as punições, como decretos que permitem exonerações sumárias e cassações de aposentadoria, representa um grave retrocesso no serviço público. A ausência de diálogo com a categoria e a imposição de medidas autoritárias reforçam a percepção de que o ambiente educacional está sendo militarizado. O discurso de eficiência e agilidade administrativa, quando desvinculado dos princípios do devido processo legal, apenas disfarça a tentativa de silenciar vozes dissonantes, especialmente aquelas que atuam em defesa da escola pública e da liberdade de cátedra.
Para os sindicatos, esse panorama evidencia uma ruptura com os valores democráticos que devem orientar a gestão pública na educação. A atuação de docentes como agentes de crítica, reflexão e transformação social está sob ataque. Quando o poder político decide usar mecanismos administrativos como ferramentas de repressão, o que está em jogo não é apenas a estabilidade dos profissionais, mas o próprio direito da sociedade a uma educação crítica e de qualidade. O impacto dessa ofensiva vai além das salas de aula, atingindo toda a estrutura do ensino público.
Apesar das tentativas de silenciamento, cresce a mobilização das categorias afetadas e o engajamento de movimentos sociais em torno da defesa da educação como direito fundamental. Atos públicos, notas de repúdio, denúncias em órgãos nacionais e internacionais de direitos humanos e articulações com parlamentares fazem parte da estratégia de resistência que vem sendo construída. A sociedade civil começa a perceber que as ameaças aos professores não são fatos isolados, mas parte de um projeto mais amplo de controle sobre o pensamento e a formação crítica.
Enquanto os ataques seguem, as universidades e escolas resistem como espaços de produção de conhecimento e cidadania. A luta contra a perseguição aos educadores ganha força por meio da solidariedade entre instituições, alunos e comunidades. Mais do que proteger direitos trabalhistas, trata-se de resguardar a liberdade de ensinar e aprender. Esse movimento também reacende o debate sobre a necessidade de garantir autonomia pedagógica e reforçar a importância das instâncias de representação docente na construção das políticas educacionais.
O futuro da educação no Rio de Janeiro está diretamente ligado à capacidade de resistir a essas investidas autoritárias. Proteger os profissionais da educação é proteger a democracia, a pluralidade de ideias e o direito ao pensamento crítico. O momento exige vigilância, organização e coragem para enfrentar práticas que ameaçam desmontar anos de conquistas no setor educacional. Reverter esse cenário é urgente e passa pela mobilização coletiva em defesa da escola pública, laica, gratuita e socialmente referenciada.